O trabalhador no trabalho fincado,
Os calos da insónia na noite perdida,
O amealhador ganancioso da riqueza,
A obsessão que passa ao lado da vida,
O febril medo da ignorância incontida,
O avarento da miserável pobreza!...
Que trabalhou no afinco viciado,
Em toda a vida sem descanso,
Não adivinhar o seu leito de corno manso,
A agonia insensível do homem enganado,
Por causa do seu escravo corpo tão cansado,
Não arrefece a cama do marido atraiçoado!...
Segou as mil searas infecundas,
Em cada seara fez mil vencilhos,
O que atou a fome dos seus filhos,
A míngua de pão das cicatrizes profundas!...
Que trabalhou o louco da loucura do medo,
A promessa de ouro e de escravo prometido,
O trabalhador à morte é sempre agradecido,
A propriedade da morte que aponta-lhe o dedo,
É julgar o condenado de um alienado degredo,
O escravo culpado por ter mesmo vencido!...
Das sulplicias despedidas frementas,
Brama o vento das searas revoltadas,
O delírio febril por mil espigas roubadas,
Por mil negros corvos pertinentes!...
Em seara alguma ficou seu nome,
Nem ócio algum morreu de fome!...
Publicado por Notícias de Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário