quarta-feira, 26 de abril de 2017

Poema: O Trabalhador

        O trabalhador no trabalho fincado,
       Os calos da insónia na noite perdida,
       O amealhador ganancioso da riqueza,
       A obsessão que passa ao lado da vida,
      O febril medo da ignorância incontida,
        O avarento da miserável pobreza!...

            Que trabalhou no afinco viciado,
               Em toda a vida sem descanso,
   Não adivinhar o seu leito de corno manso,
    A agonia insensível do homem enganado,
   Por causa do seu escravo corpo tão cansado,
   Não arrefece a cama do marido atraiçoado!...

           Segou as mil searas infecundas,
           Em cada seara fez mil vencilhos,
           O que atou a fome dos seus filhos,
         A míngua de pão das cicatrizes profundas!...

 Que trabalhou o louco da loucura do medo,
  A promessa de ouro e de escravo prometido,
  O trabalhador à morte é sempre agradecido,
  A propriedade da morte que aponta-lhe o dedo,
  É julgar o condenado de um alienado degredo,
  O escravo culpado por ter mesmo vencido!...

       Das sulplicias despedidas frementas,
      Brama o vento das searas revoltadas,
    O delírio febril por mil espigas roubadas,
        Por mil negros corvos pertinentes!...

           Em seara alguma ficou seu nome,
         Nem ócio algum morreu de fome!...
Publicado por Notícias de Portugal

Sem comentários:

Enviar um comentário