No bojo de uma garrafa,
Sem a substância, mas placebo,
Repousam os olhares que eu percebo,
Estreitaram-se no gargalo, de uma estafa,
Não sabem que dali ninguém os safa,
Mas, no bojo, só vêm o que eu bebo!...
Nadam dentro o que beberam,
Fora o que bomboleiam, do bojo,
As cores vomitadas no que comeram,
O cativeiro do vidro onde nasceram,
E olham para o que bebo com nojo!...
É esbelto e sadio,
Que passou pelo gargalo,
Passou no estreito do vadio,
Estava dentro no bojo, que forma-se um halo,
E evapora-se o vinho bebido com regalo,
E na medida que no bojo se enche de vazio,
E enche-se o bandulho de um vapor sombrio;
Ainda pareceu vir à tona de uma cura no intervalo,
Depressa se afunda entre os sorvos e o extravio,
E saciou com a fome e o fastio!...
Quis Deus virar a garrafa ao contrário,
Lá deslizou pelo gargalo, até ao bandulho,
Mas, de mal contadas as contas do seu rosário,
Já o seu fígado era de muito vinho um sacrário,
Tão tamanho do bojo inchado e sem orgulho,
Ao abandono no bojo da vinha, o fim solitário!...
Publicado por Notícias de Portugal
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