quinta-feira, 9 de março de 2017

Poema: As folhas...

   É afogada a cor na última folha que resta,
A lágrima em seiva de um olhar meigo libertado,
Liberta as transparências dos carreiros numa densa floresta,
Que agradecem os veios em pagos de um castigo calado,
São flutuantes os perdões verdes de saco silêncio parado,
Remissível o sossego da dádiva ao grito empresta,
Soltar a folha muda da palavra nua que manifesta,
De um espairecido suspiro de verde adeus ignorado!...

                 A força da folha que falha,
               Faz-se forte a fábula que fala,
              Excitar a façanha que embala,
        A foguice da nudez pálida que espalha,
  Tocar que vestes nuas caídas de farto seio,
Transformar de ternura de uma etérea poalha,
Que a luz da liberdade do suspiro seguinte que cala,
A última folha é olhar verde caído da eterna batalha,
É conquistada a perda da cor na vida, entre a morte, da dor vive alheio!...

O calculismo dos ventos sádicos que fustigam as nervuras das árvores sem tendência,
A frieza altiva das árvores desenraizados, que gelam o frio com promessas de mais frio,
Envolvem-se de gelados unguentos untados nas serpentinas da inocência,
Culpam as serpentes envolvidas de espirais ventanias da exigência,
Convencer as palavras bífidas a serem berços do leito macio,
Então prontas para acolher os beijos ocos do fruto vazio,
               No interior das árvores sem cio,
                 O Inverno da sua penitência!...

     Uma a uma, quando o tempo não dorme,
          Abrem-se as nuas mãos suavemente,
      A cor esmoecida do verde sono ausente,
       Juntam-se entre o abandono conforme,
          No policromo frio da folha jacente!...

            Da floresta sem cor de muita gente,
folhas caídas dos olhos das árvores a chorarem,
É derramado a seiva da esperança que o coração sente!...
Publicado por Notícias de Portugal

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